Sorocaba (SP) é a segunda cidade do interior de São Paulo com mais registros de boletins de ocorrência de crimes raciais, segundo relatório da Ouvidoria das Polícias do Estado. Entre 2020 e 2023, houve um aumento de 500% nos casos: de 14 boletins registrados em 2020, o número saltou para 85 no ano passado.
O aumento acompanha a tendência estadual. Em São Paulo, os registros passaram de 447 em 2020 para 4.776 em 2023. A presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB, Rayane Mayara de Proença, atribui o crescimento à mudança legislativa que equiparou a injúria racial ao crime de racismo, elevando a gravidade das penas. “Não acredito que os crimes estejam ocorrendo mais, mas sim que houve maior conscientização e denúncia devido à alteração da lei”, explica.
Preparação policial e conscientização histórica
A delegada Adriane Gonçalves destacou os esforços na capacitação dos policiais para atender melhor esses casos, com cursos regulares para novos profissionais e reciclagens para os que já atuam. “A academia busca preparar nossos policiais para realizar esse atendimento de forma eficiente e sensível”, afirma.
O sociólogo Helton Solto reforça que entender o impacto dos crimes raciais exige conhecimento histórico. “Os termos racistas foram construídos historicamente e tratados como normais. É preciso revisitar nosso passado para compreender os desafios e as contribuições da população negra à formação do Brasil”, pontua.
Relato de uma vítima
A produtora cultural Francine Berloto, vítima de racismo no ambiente de trabalho, relata que foi alvo de comentários depreciativos sobre seu cabelo. “Na hora, você não sabe como reagir. Eu travei, e depois, no mesmo dia, doeu”, conta.
Hoje, Francine participa de um coletivo de escritoras em Sorocaba, com o objetivo de promover respeito e combater o preconceito diário. “Eu sei que meu cabelo é lindo e que tem uma representatividade importante. Mas os olhares que recebo por ser negra ainda machucam”, desabafa.
A luta contra o racismo em Sorocaba passa pela denúncia, conscientização e mudanças estruturais, fundamentais para avançar na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
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